Senado aprova flexibilização do licenciamento ambiental

A ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, observa durante uma coletiva de imprensa na conferência climática das Nações Unidas COP29, em Baku, Azerbaijão, em 22 de novembro de 2024.
Ministra Marina Silva durante coletiva na COP29, em Baku, Azerbaijão (novembro de 2024) Folha de S.Paulo

Na noite de 21 de maio de 2025, o Senado Federal aprovou, por 54 votos a 13, o projeto de lei que cria a Lei Geral do Licenciamento Ambiental (PL 2.159/2021), simplificando normas para empreendimentos de impacto pequeno e médio e estabelecendo prazos máximos de análise — sob risco de anuência tácita. A proposta, aprovada com emenda que institui a Licença Ambiental Especial (LAE) para projetos estratégicos, retorna agora à Câmara dos Deputados para nova votação.

Contexto e motivações

O governo Lula tenta conciliar o estímulo a investimentos com compromissos ambientais, mas enfrenta pressão crescente da bancada ruralista, que aponta a morosidade do Ibama e dos órgãos estaduais como entraves ao crescimento econômico.

  • Objetivo oficial: reduzir custos e prazos para projetos de menor porte.
  • Força política: agronegócio, senadores de Pará, Mato Grosso e líderes governistas.

Dados quantitativos recentes

Para dimensionar o alcance da proposta, confira estes indicadores:

IndicadorPeríodo atualProposto no PL
Desmatamento na Amazônia Legal6 288 km² (ago/2023–jul/2024)N/A
Variação anual–30,6 % em relação a 2022/23N/A
Prazo médio (pequeno impacto)180 dias30 dias (anuência tácita)
Prazo médio (médio impacto)420 dias60 dias (anuência tácita)


A redução drástica de prazos pode destravar investimentos, mas amplia o risco de análises superficiais.

Estudos de caso concretos

Hidrelétrica de porte médio

  • Processo tradicional: cerca de 3 anos para Licença Prévia, mais 5 anos e 9 meses para as etapas seguintes — total de 9 anos de tramitação.
  • Impactos: atrasos em leilões de energia, aumento de custos em até 25 % e adiamento de vagas e receitas municipais.

ETE da Baixada Fluminense

  • Situação: obra paralisada por 6 anos devido a pendências de licenciamento.
  • Consequências sociais: mais de 2 milhões de habitantes sem tratamento de esgoto, elevação de casos de doenças gastrointestinais e gastos extras na saúde pública.

Principais inovações do texto aprovado

  1. Criação da Licença Ambiental Especial (LAE): emenda do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, prevê rito único e prioritário para projetos estratégicos, com dispensa de etapas tradicionais.
  2. Anuência tácita: prazos de 30 e 60 dias para pequenos e médios impactos, respectivamente.
  3. Audiências públicas facultativas: redução da participação comunitária obrigatória.

Divisões internas e críticas externas

  • Ministra Marina Silva: definiu o projeto como um “desmantelamento” do licenciamento.
  • Casa Civil (Rui Costa): defende salvaguardas suficientes, em estratégia de “minimização de danos”.

ONGs como Greenpeace e Observatório do Clima alertam para a retirada de voz de comunidades indígenas e ribeirinhas e o potencial aumento de desmatamento e contaminação.

Implicações para a COP30

Com a COP30 marcada para novembro de 2025 em Belém, o Brasil pode enfrentar desgaste diplomático se o novo marco for visto como retrocesso ambiental. A flexibilidade extra pode dificultar negociações sobre financiamentos verdes e metas climáticas.

Próximos passos

O texto retorna à Câmara dos Deputados, sem data definida para votação, mas deve ser prioridade para a base governista nas próximas sessões. A decisão final definirá se o país adotará um modelo mais ágil, porém arriscado, ou manterá controles mais rigorosos.

Conclusão

A aprovação no Senado reflete a tensão entre o agronegócio pujante, os movimentos socioambientais e as metas climáticas do governo Lula. Agora cabe à Câmara decidir se o Brasil seguirá rumo a um licenciamento mais ágil, mas potencialmente arriscado, ou se manterá mecanismos mais rigorosos de controle para preservar seus biomas e proteger comunidades tradicionais.

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