Tailândia Propõe Engajamento Internacional com Junta de Mianmar na Cúpula da ASEAN

Ministro das Relações Exteriores da Tailândia Maris Sangiampongsa após coletiva sobre consulta informal de seis países sobre Mianmar, Bangkok, 19 de dezembro de 2024.
Ministro das Relações Exteriores da Tailândia, Maris Sangiampongsa, fala após consulta informal envolvendo Bangladesh, China, Índia, Laos, Mianmar e Tailândia sobre a situação em Mianmar, em Bangkok, 19 de dezembro de 2024. REUTERS/Chalinee Thirasupa/File Photo

A Tailândia vai pressionar, na cúpula da ASEAN a ocorrer de 24 a 26 de maio de 2025 em Kuala Lumpur, por um engajamento internacional mais amplo com a junta militar de Mianmar. A proposta, apresentada pelo ministro das Relações Exteriores, Maris Sangiampongsa, busca revitalizar a diplomacia regional e conter os efeitos de um conflito que já deslocou mais de 3,5 milhões de pessoas.

Contexto e evolução do conflito

Desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021, que depôs o governo civil eleito, Mianmar vive uma guerra civil entre as forças do Exército liderado pelo general Min Aung Hlaing e coalizões de grupos étnicos alinhados ao Governo de Unidade Nacional (NUG). O país enfrenta, simultaneamente, uma crise humanitária e o florescimento de redes criminosas de golpes online que lucram bilhões de dólares ao explorar populações vulneráveis.

Análises de especialistas

“A ASEAN nunca enfrentou um desafio interno tão duradouro e complexo em seu princípio de não-interferência. É crucial adotar uma abordagem mais flexível se quisermos avançar num cessar-fogo efetivo.”
Dr. Li Yi Xuan, pesquisador sênior do ISEAS–Yusof Ishak Institute

“Em 2005, a ASEAN mediu um impasse entre Filipinas e Malásia sobre recursos pesqueiros; hoje entendemos que acordos graduais, com monitoramento in loco, são mais eficazes do que declarações amplas.”
Embaixador aposentado Tan Sri Ahmad Phesal, ex-enviado da Malásia à ASEAN

Contexto legal e institucional da ASEAN

A ASEAN equilibra dois princípios centrais:

  • Não-interferência: respeita a soberania dos Estados-membros;
  • Responsabilidade de Proteger (R2P): compromisso tácito de evitar genocídio e graves violações de direitos humanos.

Esse dilema exige consenso unânime, o que frequentemente resulta em declarações moderadas, sem aplicação prática imediata.

Dimensão econômica e de segurança regional

Comércio fronteiriço

  • Volume bilateral: Em 2024, o comércio Tailândia–Mianmar alcançou aproximadamente US$ 8,7 bilhões, incluindo madeira, gás natural e produtos agrícolas.
  • Riscos de spillover: com a intensificação dos combates, cresce o fluxo de armas e de narcóticos pelas rotas que cruzam o Estado de Kayin e a província tailandesa de Tak.

Impacto sobre investimentos

O colapso econômico de Mianmar afasta investidores regionais e multilaterais. Projetos de infraestrutura transfronteiriça — como rodovias e linhas de energia — foram suspensos ou adiados, refletindo o receio de instabilidade e a imposição de sanções internacionais.

Proposta tailandesa para a cúpula

Maris Sangiampongsa apresentará um roadmap em quatro fases:

  1. Cessar-fogo permanente e verificável, com observadores da ASEAN;
  2. Diálogo inclusivo envolvendo NUG, etnias minoritárias e junta militar;
  3. Corredores humanitários para socorro imediato e reconstrução;
  4. Programas de cooperação em educação, saúde e fortalecimento institucional.

Além disso, a Tailândia oferecerá apoio técnico e financeiro de longo prazo para o desenvolvimento social das comunidades afetadas.

Desafios e influências externas

  • A relutância da junta em negociar concessões políticas significativas;
  • As parcerias estratégicas de Mianmar com China, Rússia e Índia, que podem reduzir a eficácia de pressões ocidentais;
  • A necessidade de monitoramento contínuo para impedir que redes criminosas prejudiquem qualquer acordo de paz.

Perspectivas e cenários futuros

  • Cenário otimista: cessar-fogo efetivo, conferência inclusiva e roadmap político que leve a um governo de transição compartilhado.
  • Cenário pessimista: intensificação dos combates, agravamento da crise humanitária e expansão de redes ilícitas que minam a estabilidade regional.

Conclusão

A iniciativa da Tailândia na cúpula da ASEAN representará um teste à capacidade do bloco de conciliar não-interferência e responsabilidade de proteger. Ao combinar incentivos econômicos, apoio humanitário e pressão diplomática, Bangkok busca demonstrar que paz e desenvolvimento regional são inseparáveis — e que somente com engajamento internacional amplo será possível restaurar a segurança e a prosperidade no Sudeste Asiático.

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