
Em meio ao aumento das tensões militares no Estreito de Taiwan, a vice-presidente taiwanesa Hsiao Bi-khim fez nesta sexta-feira uma declaração enfática: “Taiwan não busca conflito e não provocará confronto”. A fala acontece em um momento delicado, marcado por exercícios militares chineses intensificados, movimentações navais em áreas sensíveis e preocupação crescente da comunidade internacional quanto à possibilidade de um conflito armado no Indo-Pacífico.
A reafirmação da postura pacífica por parte de Taipé não significa passividade. Pelo contrário: Taiwan tem adotado uma estratégia de “dissuasão defensiva” que combina fortalecimento militar, diplomacia proativa e mobilização civil. O objetivo: manter o status quo sem provocar Pequim, mas sem ceder à intimidação chinesa. Este artigo analisa os desdobramentos mais recentes da crise no Estreito de Taiwan, o posicionamento estratégico do governo taiwanês, o papel dos aliados internacionais e os desafios que ainda se colocam para a estabilidade regional.
Contexto geopolítico e declarações oficiais
Em pronunciamento à imprensa em Taipé nesta sexta-feira, a vice-presidente Hsiao Bi-khim reforçou que “Taiwan não busca conflito e não provocará confronto” com a China, ressaltando o compromisso da ilha com a paz e a estabilidade na região do Estreito de Taiwan. A declaração ocorre exatamente no dia em que a ilha encerra seus exercícios de defesa mais amplos já realizados, conhecidos como Han Kuang 41, e em meio a uma nova rodada de manobras militares chinesas nas proximidades de suas águas territoriais.
Pressão militar de Pequim
Desde 2022, Pequim vem conduzindo exercícios de bloqueio e patrulhas aéreas cada vez mais frequentes ao redor de Taiwan. Segundo análise recente, Taiwan contabilizou em julho de 2025 ao menos seis grandes operações militares chinesas, incluindo o “Strait Thunder‑2025A”, com bloqueio naval e disparos de artilharia em cadeia. Em resposta, o Exército taiwanês conduziu o exercício Han Kuang 41, envolvendo 22 000 reservistas, simulações de ataque de mísseis, guerra urbana e o emprego de sistemas de defesa avançados fornecidos pelos EUA, incluindo plataformas móveis de artilharia e blindados modernos amplamente utilizados por forças da OTAN.
Pequim considera esses exercícios “provocações” e os descreve como “avisos necessários” contra o que chama de forças separatistas. No entanto, autoridades em Taipé afirmam que tais demonstrações apenas aumentam o risco de erro de cálculo que poderia desencadear um conflito real.
Estratégia de defesa e dissuasão assimétrica
Além das manobras convencionais, Taiwan tem reforçado sua doutrina de guerra assimétrica, investindo em drones de longo alcance, mísseis antinavio de curto alcance e fortificação de infraestruturas críticas. A vice-presidente Hsiao enfatizou que “todas as medidas de defesa visam apenas dissuadir e tornar qualquer agressão demasiado custosa para o agressor”. Segundo estimativas oficiais, o orçamento de defesa taiwanês ultrapassou 2,5% do PIB, alcançando seu nível mais alto em anos recentes, refletindo uma tendência de aumento sustentado desde o agravamento das tensões regionais.
Ao mesmo tempo, o governo intensificou os exercícios de preparação civil: 52 000 voluntários foram treinados em gestão de crises, simulações de evacuação e primeiros socorros, e espera-se treinar até 4 milhões de cidadãos nos próximos anos. Trata-se de uma “defesa de toda a sociedade”, na qual empresas privadas e órgãos públicos ensaiam operações integradas para mitigar ataques híbridos, ciberofensivas e campanhas de desinformação.
Diplomacia do “status quo responsável”
Apesar da tensão militar, Taiwan mantém uma oferta de diálogo “com base em igualdade e respeito mútuo”, sem renegar sua democracia e soberania de fato. Hsiao e o presidente Lai Ching-te têm reiterado que a preservação do status quo — uma ambiguidade controlada sobre a independência formal — é a melhor garantia para a paz no Estreito e para a prosperidade regional.
Em atividades recentes com embaixadas parceiras, Hsiao destacou que “reforçar laços econômicos e tecnológicos com aliados, sobretudo os EUA, contribui para a dissuasão indireta e para tornar a escalada militar menos atrativa para Beijing”.
Dimensão econômica e alianças estratégicas
Taiwan é sede da TSMC, maior fabricante mundial de semicondutores, elemento central nas cadeias de produção globais de tecnologia. Em junho, o governo dos EUA suspendeu temporariamente uma proposta de tarifa de 32% sobre chips taiwaneses, abrindo espaço para negociações bilaterais que visam assegurar reciprocidade e cooperação em pesquisa e investimentos estratégicos.
Paralelamente, Taipé busca aprofundar acordos comerciais e de cooperação científica com Japão, Coreia do Sul e membros da ASEAN, numa “diplomacia sem fronteiras” que fortalece seu leque de parceiros e reduz o impacto de sanções ou bloqueios chineses.
Opinião pública e desafios futuros
Pesquisas recentes indicam que 62% dos taiwaneses preferem manter o status quo em vez de declarar unilateralmente a independência ou aceitar a reunificação com a China. Esse consenso interno dá legitimidade política ao gabinete de Lai e sustenta a narrativa de que a prioridade máxima é garantir a segurança e o bem-estar dos cidadãos.
Ainda assim, analistas alertam que o equilíbrio pacífico dependerá de movimentos simultâneos em Pequim, Washington e Tóquio. A disposição da China para reduzir exercícios militares e engajar-se em negociações reais, assim como o compromisso de EUA e Japão em oferecer garantias de segurança coletiva, serão determinantes para que a estratégia de “dissuasão diplomática” de Taiwan seja bem-sucedida no longo prazo.
Conclusão
A reafirmação por Hsiao Bi-khim de que “Taiwan não busca conflito” reflete uma linha clara de políticas baseadas em fortalecimento defensivo, diplomacia ativa e resiliência civil. Resta saber se essa combinação de firmeza e oferta de diálogo conseguirá conter as ambições de Pequim e assegurar, de fato, a manutenção de um status quo que beneficia não só Taiwan, mas toda a estabilidade do Indo-Pacífico.
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