
No domingo, 8 de junho de 2025, a Guarda Costeira de Taiwan e unidades das Forças Armadas realizaram exercícios conjuntos no porto de Kaohsiung, supervisionados pelo presidente Lai Ching-te, para aperfeiçoar respostas coordenadas a ações coercitivas chinesas de “zona cinzenta”. O governo de Taipei define essas táticas como operações destinadas a pressionar a ilha sem deflagrar um confronto aberto, incluindo sabotagem de cabos submarinos e dragagem de sedimentos em áreas sensíveis.
Cenário e Desdobramentos do Exercício
- Simulação de Sequestro
Uma embarcação de passageiros foi “capturada” por “terroristas internacionais”. Equipes de abordo da Guarda Costeira desceram de um helicóptero de resgate do Ministério do Interior, enquanto um helicóptero de evacuação médica do Exército aguardava à vista para atendimento e retirada de eventuais feridos. - Cobertura Antissubmarina
Ao término da operação, um helicóptero anti-submarino da Marinha sobrevoou a área, marcando a primeira atuação conjunta de aeronaves de combate com as de resgate e medevac num mesmo exercício. - Integração Civil-Militar
A presença do diplomata norte-americano Neil Gibson reforçou o caráter de demonstração de capacidade integrada de segurança, envolvendo órgãos civis (resgate, polícia marítima) e militares (Exército, Marinha).
Crescente Padrão de Pressões e Intrusões
Nas últimas semanas, o Ministério da Defesa de Taiwan tem divulgado atualizações diárias detalhando incursões chinesas no Estreito:
- Bloqueio Simulado de Kinmen: Desde 14 de fevereiro de 2024, a Guarda Costeira da China tem realizado de três a quatro patrulhas mensais em águas restritas ao redor das Ilhas Kinmen, ensaiando um possível bloqueio marítimo e testando a disposição taiwanesa de reagir
- Atividade Aérea e Naval: Em 27 de fevereiro, foram detectados 45 aeronaves militares e 14 navios chineses ao redor da ilha, incluindo a instituição de uma área de “tiros” a cerca de 40 milhas náuticas de Kaohsiung, sem aviso prévio.
- Incursões na Zona de Identificação de Defesa Aérea (ADIZ): Em 2024, foram registradas mais de 3.000 entradas de caças chineses na ADIZ de Taiwan — o dobro de 2022 — forçando respostas constantes das defesas aéreas taiwanesas e exaurindo sua margem de alerta.
Modernização e Potencial Disuasório
Em paralelo, Taiwan acelera a expansão e atualização de sua Guarda Costeira:
- Corvetas Classe Anping: Desde 2020, vêm sendo comissionadas embarcações furtivas baseadas na classe Tuo Chiang da Marinha. São altamente manobráveis, aptas a engajar alvos maiores próximo ao litoral e equipadas para operações de socorro e lançamento de mísseis Hsiung Feng (anti-navio e terra-mar).
- Cooperação Inteligência-Operações: Conforme declarou o ministro da Defesa chinês, as ações da Guarda Costeira do regime de Pequim visam mascarar operações militares como “inspeções de aplicação da lei” — tornando mais complexa a resposta de Taiwan sem fornecer pretexto para escalada.
Perspectivas e Desafios
A estratégia de “zona cinzenta” promove desgaste constante das defesas taiwanesas e impõe um dilema político: reagir com força naval ou manter a resposta dentro da esfera da guarda costeira para evitar um confronto maior. Como ressaltou Lai Ching-te:
“A Guarda Costeira está sempre na linha de frente para fazer cumprir a lei e proteger a vida e a segurança do povo de Taiwan. Consolidaremos a força de todos os departamentos e fortaleceremos a resiliência da sociedade para defender nossa democracia e liberdade.”
Para analistas, o desafio futuro está em equilibrar:
- Resiliência Nacional: Treinamentos civis de defesa e continuidade de governos locais frente a interrupções.
- Diplomacia de Defesa: Fortalecimento de parcerias com aliados — em especial os Estados Unidos — para cooperar em coleta de inteligência, intercâmbio de tecnologia e exercícios multissetoriais.
- Inovação Tecnológica: Adoção de sensores submarinos, drones marítimos e sistemas cibernéticos para detecção precoce e resposta em múltiplos domínios (marítimo, aéreo e digital).
Conclusão
Diante de uma ameaça que se apresenta cada vez mais difusa e escalonada — a chamada “zona cinzenta” — Taiwan demonstra que sua resiliência e capacidade de defesa dependem não apenas de equipamentos modernos, mas sobretudo da integração efetiva entre órgãos civis e militares. Os exercícios recentes em Kaohsiung mostram que a ilha está investindo em estratégias multifacetadas, capazes de responder rapidamente a uma gama variada de ameaças que vão desde ações terroristas até incursões militares disfarçadas.
No cenário geopolítico atual, onde a China adota táticas híbridas para aumentar sua influência sem provocar um conflito aberto, Taiwan precisa manter um equilíbrio delicado entre dissuasão, prontidão operacional e diplomacia internacional. A cooperação estreita com aliados estratégicos, a modernização contínua de suas forças e o engajamento da sociedade civil são fatores cruciais para assegurar que a ilha preserve sua democracia e autonomia.
Assim, a Guarda Costeira taiwanesa emerge não apenas como uma força de vigilância marítima, mas como um componente-chave da estratégia nacional de defesa, adaptando-se com agilidade às ameaças contemporâneas e reafirmando o compromisso do país com sua soberania em um dos pontos mais sensíveis da geopolítica asiática.
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