
Após uma ligação de duas horas com Vladimir Putin, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que Rússia e Ucrânia iniciarão negociações “imediatas” para um cessar-fogo, reacendendo esperanças de um possível fim à guerra que já dura três anos.
O anúncio veio por meio de uma publicação na plataforma Truth Social, onde Trump afirmou que os dois países “começarão imediatamente as negociações” para encerrar o conflito iniciado com a invasão russa à Ucrânia em 2022. A declaração ocorreu logo após uma ligação direta entre Trump e o presidente russo Vladimir Putin, realizada na segunda-feira.
“As negociações entre Rússia e Ucrânia começarão imediatamente”, escreveu Trump. Ele ainda acrescentou que o Vaticano, “representado pelo Papa”, se mostrou interessado em sediar os diálogos de paz.
O Retorno da Diplomacia Direta
Putin, falando com jornalistas na cidade de Sochi, no Mar Negro, confirmou que está disposto a trabalhar com a Ucrânia em um memorando preliminar sobre um futuro acordo de paz. “Estamos, em termos gerais, na direção certa”, disse o líder russo. Ele também agradeceu a Trump por apoiar o retorno do diálogo direto com Kiev, destacando que o principal objetivo da Rússia é “eliminar as causas profundas da crise”.
O memorando proposto, segundo Putin, incluiria princípios de resolução do conflito, prazos para um eventual acordo e a possibilidade de um cessar-fogo, caso as partes cheguem a entendimentos adequados.
Silêncio Inicial de Zelensky
Até o momento, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky não se pronunciou oficialmente sobre o início das negociações. Fontes próximas ao governo ucraniano informaram que Zelensky conversou brevemente com Trump antes da ligação com Putin, mas não houve confirmação de um aval explícito ao processo.
Kiev já havia expressado, anteriormente, sua disposição para um cessar-fogo imediato, enquanto Moscou vinha insistindo que certas condições deveriam ser cumpridas antes de interromper as hostilidades — entre elas, o reconhecimento dos territórios ocupados e garantias de neutralidade ucraniana.
Tentativas Anteriores Frustradas
A iniciativa marca uma retomada significativa dos esforços diplomáticos, especialmente após a fracassada rodada de conversas na Turquia na semana anterior — a primeira desde 2022. Embora não tenha havido avanço naquela ocasião, analistas apontam que o envolvimento direto de Trump pode alterar a dinâmica das negociações.
Trump, que vem prometendo encerrar rapidamente o que chama de “a guerra mais mortal da Europa desde a Segunda Guerra Mundial”, tem defendido insistentemente um cessar-fogo. Contudo, sua proposta enfrenta resistência tanto do lado russo quanto de aliados europeus, que exigem medidas mais duras contra Moscou.
Pressões Internas e Externas
O vice-presidente dos EUA, JD Vance, adotou um tom cauteloso antes da conversa entre Trump e Putin. Em declarações à imprensa, Vance afirmou que Washington reconhece haver um “impasse”, e advertiu que os EUA poderiam abandonar o processo caso não haja avanços concretos. “Se a Rússia não estiver disposta a negociar de verdade, eventualmente vamos dizer: ‘Tentamos, mas isso não é mais nossa guerra’”, declarou.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, reforçou que Trump continua comprometido com o fim do conflito, mas está “cansado e frustrado com ambos os lados”. Questionada sobre novas sanções contra Moscou, Leavitt respondeu que “tudo está sobre a mesa”.
Europa Cobra Ação Mais Dura
Enquanto Trump busca uma solução diplomática, líderes europeus manifestam ceticismo. Os primeiros-ministros do Reino Unido, França, Alemanha e Itália conversaram com Trump no domingo, pedindo que os Estados Unidos se unam à Europa na imposição de novas sanções contra a Rússia por se recusar a aceitar um cessar-fogo unilateral.
Fontes diplomáticas revelam que, embora apoiem negociações, os países europeus receiam que um acordo liderado exclusivamente por Trump possa favorecer excessivamente Moscou, em detrimento da soberania ucraniana.
Putin Ganha Tempo?
Apesar do tom conciliador, analistas alertam que Putin pode estar buscando apenas ganhar tempo para consolidar suas posições no campo de batalha. Atualmente, as forças russas controlam cerca de 20% do território ucraniano e mantêm ofensivas em diversas frentes, especialmente no leste e no sul.
“Putin ainda não indicou que está disposto a fazer concessões reais,” afirma Anatol Lieven, especialista em segurança internacional. “Mas ele quer mostrar ao mundo que está aberto à paz, especialmente se isso reduzir a pressão internacional e evitar novas sanções.”
Conclusão: Um Frágil Recomeço
O anúncio de Trump pode marcar um novo capítulo nos esforços de paz, mas o caminho até um cessar-fogo duradouro ainda é incerto. A ausência de uma declaração clara de Zelensky, o ceticismo europeu e a postura ambígua de Moscou sugerem que as negociações enfrentarão obstáculos consideráveis.
Contudo, o simples fato de os líderes estarem novamente conversando é, por si só, um sinal de que a diplomacia ainda respira. Se os próximos passos se traduzirão em paz real ou em mais uma rodada de frustração internacional, dependerá das concessões que cada lado estiver disposto a fazer — e da habilidade de Trump em transformar promessas em soluções tangíveis.
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