Trump em Riad: US$ 1 trilhão em jogo e o impasse saudita-israelense

Donald Trump caminha ao lado do rei Salman da Arábia Saudita durante visita oficial em Riad, 2017.
O presidente dos EUA, Donald Trump, ao lado do rei Salman bin Abdulaziz durante visita oficial a Riad, em 21 de maio de 2017. REUTERS/Jonathan Ernst/File Photo.

A visita de Estado do presidente Donald Trump a Riad, marcada pela promessa de US$ 1 trilhão em investimentos nos EUA, serve de palco para um paradoxo geopolítico. Enquanto cifras bilionárias dominam as manchetes, o cerne diplomático — a normalização entre Arábia Saudita e Israel — permanece estagnado. Este artigo revisita o tema com tom analítico e jornalístico, corrigindo imprecisões, ajustando a fluidez da narrativa e incorporando dados recentes e confiáveis.

Gaza: a linha vermelha que trava a normalização

A ofensiva israelense em Gaza já contabiliza mais de 52 000 mortes e deslocou quase 2 milhões de pessoas, segundo estatísticas da ONU e de organizações como a Human Rights Watch. Para Riade, qualquer diálogo sobre normalização exige:

  • Cessar-fogo imediato e sustentável, validado por observadores internacionais.
  • Plano crível de reconstrução de Gaza, com participação saudita e fundos multilaterais.
  • Garantias de avanço político rumo a um Estado palestino — condição não negociável para o reino que se vê como guardião dos lugares mais sagrados do Islã.

O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman chegou a qualificar as ações israelenses de “genocídio”, reforçando o caráter inegociável da pauta humanitária.

O enorme pacote econômico

Apesar do impasse político, Washington e Riad concentram-se em:

  1. Defesa e segurança: expectativa de novos acordos de venda de equipamentos militares avançados e formalização de garantias de cooperação estratégica.
  2. Mega-projetos Vision 2030: investimentos em cidades inteligentes, turismo de luxo e energias renováveis, com potenciais aportes superiores a US$ 200 bilhões até 2030.
  3. Tecnologia e IA: lançamento de centros de P&D e atração de startups para consolidar o setor de inovação saudita.

Impacto estimado:

  • Geração de até 500 000 empregos diretos e indiretos.
  • Consolidação de Riyadh e Jeddah como polos regionais de tecnologia.

Os objetivos de Washington

Para o governo Trump, os ganhos são claros:

  • Contrabalançar a China: direcionar investimentos sauditas para empresas americanas de infraestrutura crítica.
  • Proteger o petrodólar: reforçar o uso do dólar nas transações de petróleo.
  • Legado diplomático: ampliar o êxito dos Acordos de Abraão de 2020, criando novos pactos de paz no Oriente Médio.

Em abril de 2025, o Departamento de Estado anunciou a suspensão de ataques aéreos dos EUA contra os houthis no Iêmen, alinhando-se à posição saudita por um cessar-fogo local — demonstrando sincronia de interesses antes do embarque de Trump para a Arábia Saudita.

Cenários prováveis

CenárioDescriçãoProbabilidade
Plano de Transição para GazaProposta de governo interino e forças internacionais na Faixa de Gaza.Média
Foco em InvestimentosÊnfase exclusiva em negócios bilionários; normalização adiada.Alta
Alinhamento com PequimFrustração com impasse leva Riade a reforçar acordos estratégicos com a China.Baixa-Média

Perspectivas e prazos

  • Curto prazo (até final de 2025): normalização praticamente inviável; agenda limitada a negócios.
  • Médio prazo (2026–2027): dependência de cessar-fogo duradouro e avanço político robusto, possivelmente mediado pela ONU ou UE.
  • Longo prazo (após 2027): retomada de conversas de paz num arcabouço multilateral, envolvendo EUA, Liga Árabe e parceiros europeus.

Conclusão

O tapete vermelho em Riad e os anúncios de US$ 1 trilhão em investimentos traduzem a força econômica das relações EUA–Arábia Saudita, mas não garantem avanços políticos no conflito israelo-palestino. Enquanto a crise humanitária em Gaza não for enfrentada com um plano de paz inequívoco, a normalização com Israel permanecerá um horizonte distante — independentemente do volume de dinheiro em jogo.

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