
A visita de Estado do presidente Donald Trump a Riad, marcada pela promessa de US$ 1 trilhão em investimentos nos EUA, serve de palco para um paradoxo geopolítico. Enquanto cifras bilionárias dominam as manchetes, o cerne diplomático — a normalização entre Arábia Saudita e Israel — permanece estagnado. Este artigo revisita o tema com tom analítico e jornalístico, corrigindo imprecisões, ajustando a fluidez da narrativa e incorporando dados recentes e confiáveis.
Gaza: a linha vermelha que trava a normalização
A ofensiva israelense em Gaza já contabiliza mais de 52 000 mortes e deslocou quase 2 milhões de pessoas, segundo estatísticas da ONU e de organizações como a Human Rights Watch. Para Riade, qualquer diálogo sobre normalização exige:
- Cessar-fogo imediato e sustentável, validado por observadores internacionais.
- Plano crível de reconstrução de Gaza, com participação saudita e fundos multilaterais.
- Garantias de avanço político rumo a um Estado palestino — condição não negociável para o reino que se vê como guardião dos lugares mais sagrados do Islã.
O príncipe herdeiro Mohammed bin Salman chegou a qualificar as ações israelenses de “genocídio”, reforçando o caráter inegociável da pauta humanitária.
O enorme pacote econômico
Apesar do impasse político, Washington e Riad concentram-se em:
- Defesa e segurança: expectativa de novos acordos de venda de equipamentos militares avançados e formalização de garantias de cooperação estratégica.
- Mega-projetos Vision 2030: investimentos em cidades inteligentes, turismo de luxo e energias renováveis, com potenciais aportes superiores a US$ 200 bilhões até 2030.
- Tecnologia e IA: lançamento de centros de P&D e atração de startups para consolidar o setor de inovação saudita.
Impacto estimado:
- Geração de até 500 000 empregos diretos e indiretos.
- Consolidação de Riyadh e Jeddah como polos regionais de tecnologia.
Os objetivos de Washington
Para o governo Trump, os ganhos são claros:
- Contrabalançar a China: direcionar investimentos sauditas para empresas americanas de infraestrutura crítica.
- Proteger o petrodólar: reforçar o uso do dólar nas transações de petróleo.
- Legado diplomático: ampliar o êxito dos Acordos de Abraão de 2020, criando novos pactos de paz no Oriente Médio.
Em abril de 2025, o Departamento de Estado anunciou a suspensão de ataques aéreos dos EUA contra os houthis no Iêmen, alinhando-se à posição saudita por um cessar-fogo local — demonstrando sincronia de interesses antes do embarque de Trump para a Arábia Saudita.
Cenários prováveis
Cenário | Descrição | Probabilidade |
---|
Plano de Transição para Gaza | Proposta de governo interino e forças internacionais na Faixa de Gaza. | Média |
Foco em Investimentos | Ênfase exclusiva em negócios bilionários; normalização adiada. | Alta |
Alinhamento com Pequim | Frustração com impasse leva Riade a reforçar acordos estratégicos com a China. | Baixa-Média |
Perspectivas e prazos
- Curto prazo (até final de 2025): normalização praticamente inviável; agenda limitada a negócios.
- Médio prazo (2026–2027): dependência de cessar-fogo duradouro e avanço político robusto, possivelmente mediado pela ONU ou UE.
- Longo prazo (após 2027): retomada de conversas de paz num arcabouço multilateral, envolvendo EUA, Liga Árabe e parceiros europeus.
Conclusão
O tapete vermelho em Riad e os anúncios de US$ 1 trilhão em investimentos traduzem a força econômica das relações EUA–Arábia Saudita, mas não garantem avanços políticos no conflito israelo-palestino. Enquanto a crise humanitária em Gaza não for enfrentada com um plano de paz inequívoco, a normalização com Israel permanecerá um horizonte distante — independentemente do volume de dinheiro em jogo.
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