
Em 21 de junho de 2025, o presidente Volodymyr Zelensky lançou um apelo inédito aos países ocidentais: destinar 0,25% de seu Produto Interno Bruto (PIB) para reforçar a produção doméstica de armamentos na Ucrânia. Além dessa proposta financeira, Kiev avança em acordos bilaterais para compartilhar e exportar tecnologias de fabricação de armas e drones interceptores, numa estratégia que visa não apenas reduzir a dependência de suprimentos externos, mas também consolidar sua indústria de defesa como pilar de segurança europeia. Este artigo revisita o pedido de Zelensky, incorpora dados recentes e analisa suas implicações geopolíticas, econômicas e tecnológicas.
Contexto do Conflito e Dependência Externa
Desde a invasão russa iniciada em fevereiro de 2022, a Ucrânia se sustenta em generosos pacotes de ajuda militar de aliados como Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia. No entanto, o ritmo de envio de equipamentos e munições não acompanha o uso intenso nos campos de batalha: em uma única noite, as forças russas já lançaram mais de 400 drones e dezenas de mísseis Shahed contra alvos ucranianos, gerando escassez de interceptores e artilharia.
A Meta de 0,25% do PIB
Zelensky propôs que cada parceiro contribua com 0,25% do PIB ao ano para financiar a “capacidade produtiva estratégica” ucraniana. Para países como Alemanha e Reino Unido, isso significa bilhões de euros em investimentos contínuos, superando a natureza episódica das tradicionais doações de armamento.
Parcerias em Negociações Avançadas
- Dinamarca e Noruega: ampliam joint ventures para fabricar peças de artilharia, munições e drones interceptor na Ucrânia, aproveitando linhas logísticas consolidadas em portos bálticos.
- Alemanha e Canadá: negociam centros de P&D conjunto para adaptar e escalar sistemas de defesa aérea e munições de precisão.
- Reino Unido: oferecerá incentivos fiscais a empresas que importarem tecnologia ucraniana de produção de munições.
- Lituânia: comprometeu-se a alocar 0,25% de seu PIB na construção de uma fábrica de munições de médio calibre em Kiev.
As tratativas devem resultar em acordos formais até o fim do verão boreal de 2025, quando também começam a valer as licenças de exportação de tecnologias ucranianas.
Desenvolvimento de Drones Interceptores e Expansão Produtiva
Em 20 de junho, Zelensky destacou o avanço na produção de drones interceptores: antes da guerra, a Ucrânia não fabricava sistemas desse tipo; agora, almeja produzir até 4 milhões de unidades ao ano para defender cidades e infraestrutura crítica. Os esforços incluem a padronização de componentes NATO STANAG e linhas de montagem modulares em fábricas adaptadas por parceiros europeus.
Fundo Conjunto com os EUA e Apoio Financeiro
Durante o G7 no Canadá (18 de junho), Kiev e Washington discutiram expandir a atuação de um fundo bilateral — inicialmente focado em minerais — para incluir projetos de defesa ucraniana. O First Deputy Prime Minister Yulia Svyrydenko e o Secretário do Tesouro Scott Bessent avaliaram a viabilidade de financiar instalações de produção de sistemas Patriot e reparos de equipamentos cedidos pelos EUA.
Implicações Geopolíticas e Econômicas
A consolidação de uma indústria bélica ucraniana robusta pode:
- Elevar a dissuasão de futuras ofensivas russas;
- Diversificar fornecedores da OTAN, reduzindo gargalos de suprimentos;
- Gerar empregos especializados e inovação dual-use (civil/militar) na Ucrânia e na Europa Ocidental.
Entretanto, subsistem riscos de segurança tecnológica, dependência de infraestruturas logísticas e volatilidade política nos países financiadores.
Conclusão
A iniciativa de Zelensky de vincular 0,25% do PIB aliado à produção de armamentos representa um marco estratégico: vai além da mera transferência de armas e busca edificiar uma base industrial sustentável e interoperável. O sucesso depende da rapidez na assinatura dos acordos, do rigor nos controles de segurança e da manutenção do comprometimento político dos aliados perante desafios orçamentários e eleitorais.
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