
Ontem, sexta-feira, pela primeira vez desde março de 2022, as delegações da Ucrânia e da Rússia reuniram‑se em Istambul para tentar um cessar‑fogo. As conversas, que duraram menos de duas horas, não avançaram em direção a uma trégua, e Kiev imediatamente passou a mobilizar seus aliados ocidentais para aumentar a pressão sobre Moscou.
Condições Russas e Rejeição Ucraniana
Delegados russos apresentaram exigências consideradas inaceitáveis por Kyiv:
- Retirada de tropas ucranianas de áreas já liberadas.
- Abandono de aspirações à OTAN e neutralidade política.
Segundo fonte ucraniana, Moscou cobrou também que Kiev renuncie a territórios reconquistados nesta fase do conflito — termos tidos como “não construtivos” e “além de tudo o que havia sido discutido” em negociações anteriores.
Vladimir Medinsky, negociador‑chefe russo, declarou que a Rússia mantém disposição para seguir dialogando, mas não abrirá mão de seus objetivos estratégicos.
Diplomacia Ativa de Kiev
Minutos após o fim das conversas, o presidente Volodymyr Zelensky acionou por telefone o então presidente dos EUA, Donald Trump, além dos líderes da França, Alemanha e Polônia, defendendo:
- Cessar‑fogo imediato de 30 dias, proposto pelos EUA.
- Sanções coordenadas e duras caso Moscou rejeite a trégua.
Heorhii Tykhyi, porta‑voz do Ministério das Relações Exteriores ucraniano, resumiu:
“Se você quer negociações sérias, é preciso que as armas silenciem antes.”
Acordo Parcial: Intercâmbio de Prisioneiros
Apesar do impasse, as partes concordaram em trocar 1.000 prisioneiros de guerra cada — o maior intercâmbio até agora. Embora humanitário, esse acordo é visto como simbólico, sem alterar o equilíbrio militar no terreno.
Alinhamento Ocidental e Sanções
- Reino Unido: o primeiro‑ministro Keir Starmer qualificou as exigências russas como “claramente inaceitáveis”.
- União Europeia: a presidente Ursula von der Leyen anunciou um novo pacote de sanções visando setores de energia e finanças russos.
- EUA: congressistas republicanos e democratas trabalham em legislação para restringir exportações de tecnologia e ampliar congelamento de ativos do Kremlin.
Economistas estimam que medidas adicionais podem reduzir em até 15% as receitas de petróleo da Rússia ainda neste semestre, pressionando a capacidade de financiamento da guerra.
Cenários e Desafios Futuros
- Escalada Militar: se Moscou continuar a rejeitar sanções e trégua, há risco de intensificação de ataques no Donbass e no sul da Ucrânia.
- Pressão Econômica: bloqueios às exportações de gás e medidas contra o sistema bancário russo podem forçar Moscou a reconsiderar sua postura, mas também elevarão custos de energia na Europa.
- Mediação Multilateral: a proposta turca pode abrir nova via diplomática, embora ainda dependente da vontade política de Putin e dos aliados ocidentais.
Conclusão
O encontro de Istambul reafirmou o fosso estratégico entre Kyiv e Moscou. Enquanto a Ucrânia busca uma trégua imediata como base para negociações sérias, a Rússia insiste em prolongar diálogos sem compromissos concretos. O sucesso de qualquer iniciativa dependerá agora da coesão ocidental e da eficácia das sanções, bem como de uma possível mediação multilateral que reestruture o processo de paz.
Atualização Recente
Nas últimas 24 horas, fontes diplomáticas informam que o Ministro das Relações Exteriores da Turquia, país anfitrião das conversas, convocou uma reunião ampliada com representantes de Alemanha, França e Reino Unido para discutir um formato multilateral que inclua Ucrânia, Rússia, Turquia e os Estados Unidos em futuras rodadas — possivelmente no final de maio. Esse movimento sinaliza busca por um mecanismo mais estruturado, além do formato bilateral que emperrou em Istambul.
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