A moeda do Irã atingiu ontem (sábado, 5 de abril) o seu valor mais baixo já registrado em relação ao dólar, em meio ao aumento das tensões com os Estados Unidos devido ao programa nuclear iraniano. No início das negociações, a taxa de câmbio caiu para 1.043.000 riais por dólar, segundo relatos de operadores locais.
Durante as festividades do Nowruz, o Ano Novo Persa, o câmbio já havia ultrapassado a marca de 1 milhão de riais por dólar, com o fechamento das casas de câmbio e predominância do comércio informal nas ruas, o que gerou ainda mais instabilidade no mercado.
Tensão com os EUA e o impacto do governo Trump
A economia iraniana tem sido duramente impactada por sanções internacionais, especialmente após o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, retirar unilateralmente Washington do acordo nuclear com Teerã em 2018. Com o retorno de Trump à presidência em janeiro de 2025, sua política de “pressão máxima” foi retomada, com novas sanções impostas contra empresas que comercializam petróleo iraniano, inclusive com descontos na China.
Consequências das sanções para a economia iraniana
De acordo com analistas econômicos locais e internacionais, como o think tank Middle East Economic Digest, a desvalorização do rial reflete a perda de confiança no futuro da economia iraniana, agravada por sanções que dificultam transações bancárias, importações e exportações.
O Banco Central do Irã não conseguiu conter a queda, apesar de intervenções anteriores. Dados extraoficiais divulgados por comerciantes apontam que ontem a moeda chegou a ser negociada entre 1.043.000 e 1.050.000 riais por dólar em pontos não oficiais de Teerã.
Reações do governo iraniano
O presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, afirmou ontem que seu governo está disposto a dialogar com os Estados Unidos “em condições de igualdade”, embora não tenha esclarecido se isso incluiria negociações diretas. “Hoje, a América não está apenas humilhando o Irã, mas o mundo inteiro”, declarou, referindo-se às recentes políticas protecionistas adotadas por Trump.
O programa nuclear e o risco de escalada
Os países ocidentais, liderados pelos EUA, acusam o Irã há décadas de buscar armas nucleares — o que Teerã nega, insistindo que seu programa tem fins pacíficos. Em 2015, o Irã firmou um acordo com as principais potências mundiais para restringir suas atividades nucleares, mas após a saída dos EUA do pacto em 2018, o país reduziu gradualmente seus compromissos e acelerou o enriquecimento de urânio.
Nesta semana, Ali Larijani, conselheiro do líder supremo Ali Khamenei, afirmou que, embora o Irã não queira armas nucleares, poderá “não ter escolha” a não ser desenvolvê-las em caso de ataque externo.
O impacto na população: inflação, escassez e incerteza
Com a contínua desvalorização da moeda, a inflação disparou, afetando o preço de produtos básicos como alimentos, medicamentos e combustíveis. O desemprego também aumentou, especialmente entre jovens e mulheres. Segundo economistas da Universidade de Teerã, o custo de vida dobrou em menos de um ano em algumas regiões do país.
A população iraniana enfrenta dificuldades para adquirir itens essenciais e relatos de protestos esporádicos em pequenas cidades têm se multiplicado. “Meu salário já não cobre nem metade das despesas da casa”, disse um professor universitário à imprensa local.
Câmbio e perspectivas futuras
A expectativa dos mercados é de que a moeda continue sob pressão, a menos que haja avanços diplomáticos concretos. “Sem alívio das sanções e sem um canal de diálogo efetivo com os EUA, o rial pode continuar despencando”, alertou um relatório do centro iraniano de estudos econômicos Majlis Research Center.
Enquanto isso, autoridades iranianas pedem calma e reafirmam que medidas estão sendo estudadas para estabilizar a moeda, incluindo o fortalecimento das reservas internacionais e a adoção de um sistema cambial mais transparente.
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