
Em 14 de junho de 2025, um ataque aéreo israelense atingiu a unidade 14 do campo de gás South Pars, na província de Bushehr, sul do Irã, provocando um incêndio que interrompeu a saída de 12 milhões de metros cúbicos diários de gás. Trata‑se da primeira ação direta de Israel contra a infraestrutura energética iraniana, em meio à “Operação Rising Lion” que já havia mirado mais de 150 alvos militares e nucleares no país.
Produção suspensa após ataque
Segundo a agência Tasnim, o incêndio afetou uma das quatro unidades produtivas da Fase 14 e foi rapidamente controlado, mas deixou o campo operando com capacidade reduzida. O South Pars responde por mais de metade da produção de gás natural do Irã — cerca de 275 bilm³/ano, equivalentes a cerca de 6,5% do total global — e abastece internamente grande parte da demanda, já que sanções impedem exportações significativas.
Papel estratégico do South Pars/North Field
Localizado na fronteira marítima entre Irã e Catar, o campo é compartilhado com Doha (onde é chamado North Field). Do lado catariano, o North Field gera 77 milhões de toneladas anuais de GNL em parceria com ExxonMobil e Shell, abastecendo Europa e Ásia via terminais de liquefação. Qualquer perturbação significativa nessa região acende alertas sobre a segurança do abastecimento de gás natural no mercado internacional.
Iniciativas de expansão e reforço da produção
Antes mesmo das tensões atuais, o Irã vinha investindo robustamente para estender a vida útil do South Pars. Em março de 2025, Teerã assinou contratos de US $ 17 bi com empresas nacionais para projetos de elevação de pressão em sete zonas do campo, com o objetivo de manter a produtividade e prolongar a operação em até 20 anos. A iniciativa prevê instalação de 14 plataformas de compressão, infill drilling e reforço de infraestrutura submarina, criando milhares de empregos e assegurando a segurança energética interna até meados da década de 2040.
Impactos nos mercados globais de energia
O temor de nova queda de produção empurrou o petróleo para alta de 9% na sexta‑feira anterior ao ataque, enquanto traders de GNL recalculam riscos de fornecimento do Golfo. Analistas apontam que, caso o conflito atinja instalações de liquefação ou gasodutos de exportação, os preços do gás poderiam sofrer picos ainda mais acentuados, afetando contratos de longo prazo com compradores europeus e asiáticos.
Reações regionais e diplomáticas
Países do Golfo — especialmente Arábia Saudita, Emirados Árabes e Catar — têm atuado para coibir Israel de utilizar seus espaços aéreos rumo ao Irã, evitando envolvimento direto no confronto. Internacionalmente, o primeiro‑ministro britânico Keir Starmer enviou reforços à região, enquanto França, Alemanha, China e Rússia pedem contenção. As negociações nucleares EUA‑Irã, previstas para ocorrer em Omã, foram oficialmente suspensas, com Teerã declarando-as “sem sentido” após o apoio ocidental ao ataque israelense.
Riscos de escalada e cenários futuros
O Irã prometeu responder a qualquer nova agressão, e há temor de que retaliações atinjam oleodutos, terminais de GNL ou campos no Catar. Uma guerra ampliada poderia desencadear interrupções em rotas críticas de transporte marítimo no Golfo, levando a uma crise energética global. Ao mesmo tempo, diplomatas buscam retomar o diálogo nuclear como última chance de frear o ciclo de hostilidades antes que o conflito se transforme em guerra aberta de longo prazo.
Conclusão
A suspensão parcial do South Pars expõe fragilidades de um dos maiores complexos de gás do mundo e ressalta o impacto direto que conflitos geopolíticos podem ter nos mercados de energia. Os recentes investimentos de US $ 17 bi em projetos de elevação de pressão, que visavam reforçar a produção iraniana, agora enfrentam novo risco de interrupção, ampliando a incerteza sobre o futuro da oferta global de gás natural.
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