
Na manhã de 4 de julho de 2025, Índia, Grécia, Chipre e Armênia anunciaram informalmente a criação do “West Asia Quad”, um fórum de cooperação política, militar e humanitária com o objetivo declarado de contrabalançar a influência turca no Mediterrâneo Oriental e no Cáucaso. Desde então, o grupo já coordenou operações de evacuação e firmou acordos de defesa e energia, sinalizando um realinhamento estratégico de longo alcance.
Contexto e Surgimento
A convergência de interesses entre estas quatro democracias tem raízes profundas: disputas marítimas no Mar Egeu, a ocupação turca do norte de Chipre desde 1974 e antagonismos nos conflitos do Cáucaso. Após meses de diálogo nos ministérios das Relações Exteriores, o formato foi oficialmente testado na evacuação conjunta de cidadãos indianos do Irã, em 12–14 de maio de 2025, via fronteira Nurduz–Agarak, demonstrando sua operacionalidade.
Motivações Estratégicas
Segurança Energética e Conectividade:
- O Mediterrâneo Oriental concentra 2,13 triilhão m³ de reservas de gás no Egito e 0,59 trilhão m³ em águas cipriotas, segundo a JODI/BNP Paribas.
- Em 2024, as exportações de gás natural de Israel para Egito e Jordânia subiram 13,4 %, atingindo 22 bcm de produção total, impulsionadas pelos campos Tamar e Leviathan.
- Essas descobertas e o projeto do Corredor Índia–Oriente Médio–Europa (IMEEC) visam reduzir a dependência de rotas turcas e chinesas.
Ambição Global de Nova Délhi:
- A Índia busca demonstrar capacidade de formar coalizões interregionais e reforçar seu pleito por uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, aproveitando-se também do apoio de Chipre, que assumirá a presidência rotativa da UE em 2026.
Primeiras Iniciativas Conjuntas
- Operação de Evacuação no Irã (12–14 de maio de 2025):
Cerca de 110 cidadãos indianos foram transportados via terra para Yerevan e então voaram de volta a Nova Délhi em voos especiais, graças à logística da Armênia, confirmando o componente humanitário do Quad. - Fórum de Comércio Índia‑Grécia‑Chipre (26 de junho de 2025):
Em Limassol, foi lançado um conselho trilateral para impulsionar investimentos em tecnologia, turismo e energia renovável, com foco em parques solares e parcerias de LH2.
A Visita Histórica de Modi a Chipre
Em 15 de junho de 2025, o primeiro‑ministro Narendra Modi realizou em Nicósia a primeira visita de um líder indiano em 20 anos. Foram assinados:
- Memorando de Entendimento em Defesa, incluindo exercícios navais conjuntos no Mediterrâneo.
- Protocolo de Intercâmbio de Inteligência Antiterrorista.
- Acordo de US$ 2 bilhões em Energias Renováveis, para instalação de parques solares e eólicos em Chipre.
Reação Oficial Turca
Em julho de 2025, a chancelaria turca declarou que a iniciativa “mina a estabilidade regional” e “reflete interferência geopolítica externa”, reagindo à crescente cooperação da Índia com os rivais de Ancara no Mediterrâneo Oriental.
Dados Recentes de Comércio e Fluxo de Energia
Relações Comerciais Índia–Turquia (abril 2024–fevereiro 2025):
- Exportações indianas: US$ 5,2 bilhões (contra US$ 6,65 bilhões em 2023/24).
- Participação de apenas 1,5 % nas exportações totais da Índia de US$ 437 bilhões.
Fluxo de Gás na Turquia (2023–2025):
- Consumo: 50–60 bcm/ano, quase integralmente importado.
- Produção doméstica: 3,6 bcm em 2024, via campo de Sakarya, inaugurado em abril de 2023.
Implicações Geopolíticas
- Equilíbrio de Poder: Frente democrática unida contra o expansionismo turco.
- Integração UE‑Índia: Potencial sinergia com Bruxelas, via Chipre (presidência UE em 2026).
- Novos Corredores Energéticos: Corredores alternativos de gás e petróleo, reduzindo a hegemonia de Ancara.
Desafios e Perspectivas Futuras
- Harmonizar interesses concorrentes em hidrocarbonetos e turismo.
- Resistência diplomática e econômica da Turquia.
- Transição de fórum informal para cúpulas anuais e grupos de trabalho setoriais.
Conclusão
O West Asia Quad marca a primeira coalizão inter‑regional liderada pela Índia fora da Ásia‑Pacífico, reunindo países com ameaças comuns e ambições de conectividade estratégica. Com o agendamento da sua primeira cúpula formal para o terceiro trimestre de 2026, a capacidade deste grupo de transformar acordos pontuais em estruturas duradouras determinará se ele se consolida como contraponto eficaz à política externa turca e como catalisador de um novo equilíbrio de poder eurasiático.
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