Oposição adia moção de desconfiança contra Paetongtarn Shinawatra em meio a impasse judicial

Paetongtarn Shinawatra deixa residência oficial a caminho da cerimônia de posse como ministra da Cultura após ser suspensa do cargo de primeira-ministra pela Corte Constitucional da Tailândia.
A primeira-ministra suspensa da Tailândia, Paetongtarn Shinawatra, a caminho da cerimônia de juramento do novo gabinete, onde assume o cargo de ministra da Cultura./ Reuters

No início de julho de 2025, a política tailandesa voltou a ferver quando a oposição decidiu postergar a apresentação de uma moção de desconfiança contra a prime‑ministra Paetongtarn Shinawatra, aguardando o desfecho de um processo no Tribunal Constitucional. Este é mais um capítulo envolvendo a primeira‑ministra Paetongtarn Shinawatra, cuja suspensão provisória ocorreu em 1º de julho, após o tribunal aceitar petição de 36 senadores que a acusam de desonestidade e violação de padrões éticos em razão de um telefonema vazado com o ex‑líder cambojano Hun Sen. Enquanto isso, parlamentares oposicionistas reforçam seu compromisso de atuar em conjunto para evitar um bloqueio político que paralisaria o Legislativo.

As acusações e a suspensão provisória

No telefonema vazado em meados de junho, Paetongtarn teria se referido a Hun Sen como “tio” e criticado um comandante militar tailandês — fatos que geraram indignação ao serem interpretados como afronta à hierarquia e dignidade das Forças Armadas. O Tribunal Constitucional, ao acatar a petição, ordenou sua suspensão por 15 dias enquanto analisa as acusações de desonestidade e infração ética. Além disso, o órgão anticorrupção (NACC) abriu investigação paralela, o que pode culminar em recurso ao Supremo Tribunal e eventual inelegibilidade política de até 10 anos.

Estratégia coordenada da oposição

Reunidos em 2 de julho, os líderes dos cinco partidos de oposição — incluindo o People’s Party, maior bancada fora do governo — confirmaram que só apresentarão a moção de desconfiança após decisão judicial definitiva sobre a permanência de Paetongtarn no cargo. Natthaphong Ruengpanyawut, chefe do People’s Party e líder da minoria, enfatizou que “não haverá beco sem saída” e que as legendas trabalharão unidas para manter o funcionamento do Parlamento, mesmo que a primeira‑ministra seja removida definitivamente.

Remanejamento ministerial e liderança interina

Para reforçar sua base, o governo realizou amplo reshuffle no dia 1º de julho: Paetongtarn foi nomeada ministra da Cultura, garantindo-lhe assento em reuniões do Conselho de Ministros a partir de 3 de julho, mesmo sob suspensão. Paralelamente, Suriya Juangroongruangkit, atual vice‑primeiro‑ministro e ministro dos Transportes, assumiu como líder interino do Executivo enquanto durar o processo no Tribunal Constitucional. A estratégia visa transmitir estabilidade à coalizão, cuja maioria na Câmara dos Representantes é bastante estreita.

Repercussões para a dinastia Shinawatra

Paetongtarn, de 38 anos, representa a terceira geração da família que polariza a política tailandesa — seu pai, Thaksin, e sua tia, Yingluck, já foram derrubados por instâncias judiciárias e militares em 2006 e 2014, respectivamente. Desde o vazamento, sua popularidade caiu vertiginosamente, e protestos em Bangkok reuniram milhares de manifestantes, na maior mobilização anti‑governo desde 2023. Enquanto isso, Thaksin enfrenta casos de lesa‑majestade relativos a entrevista de 2015 e questionamentos sobre sua permanência em hospital em vez de cumprir pena, reforçando o clima de incerteza.

Possíveis cenários e desdobramentos

Paetongtarn tem 15 dias para apresentar defesa ao Tribunal Constitucional; se considerada culpada, poderá ser destituída e sofrer proibição política. Nesse caso, abre‑se caminho para governo interino sob liderança militar ou eleições antecipadas, cenário que dependerá de negociações entre partidos e da evolução das tensões nas ruas. A decisão do tribunal não definirá apenas o futuro imediato da premiê, mas também moldará o equilíbrio de poder entre instituições eleitas e não‑eleitas na Tailândia.

Conclusão

O impasse em torno de Paetongtarn Shinawatra não é apenas um episódio isolado de instabilidade, mas um reflexo das profundas fraturas institucionais da Tailândia — onde o embate entre forças eleitas e atores não eleitos, como o Judiciário e os militares, segue moldando os rumos do país. A decisão da oposição de aguardar o veredito da Corte demonstra uma rara demonstração de responsabilidade institucional, mas também escancara os limites de uma democracia fragilizada. Enquanto isso, o futuro político da dinastia Shinawatra — e da própria governabilidade tailandesa — permanece nas mãos de um tribunal, e o risco de uma nova ruptura democrática não pode ser descartado.

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