
Na noite de sexta‑feira, 13 de junho de 2025, e nas primeiras horas de sábado, um grupo ainda não identificado lançou um ataque contra o vilarejo de Yelewata, no distrito de Guma, estado de Benue, centro da Nigéria. Segundo a Amnesty International Nigeria, pelo menos 100 pessoas foram assassinadas, dezenas continuam desaparecidas e centenas ficaram feridas, muitas sem acesso a atendimento médico adequado.
O ataque
Testemunhas relatam que os agressores – fortemente armados – cercaram a comunidade, arrombaram residências e trancaram famílias em quartos antes de incendiá‑los. Vídeos compartilhados em redes sociais mostram casas em chamas, corpos carbonizados e moradores desesperados vasculhando escombros em busca de sobreviventes . A polícia local confirmou o ataque, mas não divulgou um balanço oficial de vítimas, alimentando a preocupação com a subnotificação.
Resposta governamental e humanitária
O governador Hyacinth Alia deslocou equipes de resgate e apoio psicossocial para Yelewata, além de articular o envio de ambulâncias para hospitais regionais. Porém, a escassez de leitos e de suprimentos médicos em Benue agrava a crise de atendimento. A Cruz Vermelha local e ONGs internacionais, como Médicos Sem Fronteiras, anunciam mobilização de equipes e insumos, mas enfrentam dificuldades logísticas em estradas danificadas pelas chuvas sazonais.
Contexto e causas profundas
Benue faz parte do “Middle Belt”, região de transição entre o Norte muçulmano e o Sul cristão da Nigéria. Ao longo dos últimos anos, a disputa por terra e água entre pastores nômades (predominantemente fulani) e agricultores locais gerou ciclos de retaliação violenta. Entre 2019 e hoje, mais de 500 pessoas foram mortas e cerca de 2,2 milhões foram deslocadas em conflitos semelhantes.
Episódios recentes de violência
Em maio de 2025, ataques no distrito de Gwer West deixaram ao menos 42 mortos, atribuídos a grupos de pastores armados. Em abril de 2023, massacres em Plateau State, vizinho a Benue, resultaram em quase 200 vítimas fatais, ressaltando a escalada de tensões em toda a região.
Impacto humanitário
Milhares de pessoas de Yelewata encontram‑se desabrigadas e sem recursos básicos. As autoridades contabilizam centenas de feridos – muitos com queimaduras graves – e estabeleceram abrigos provisórios em vilarejos vizinhos. A falta de água potável e saneamento adequado eleva o risco de surtos de cólera e malária. Organizações de socorro já notificaram a necessidade urgente de kits de higiene, tendas e medicamentos.
Análise
O ataque simboliza o fracasso das políticas de segurança rural na Nigéria. A militarização pontual, via operações policiais esporádicas, não resolve o cerne do conflito: a escassez de recursos em um cenário de mudança climática. Enquanto pastores mantêm rotas de transumância informais, agricultores veem seus campos devastados e clamam por indenizações. A falta de tribunais regionais eficazes e de mecanismos de mediação comunitária perpetua a impunidade.
Perspectivas e recomendações
Especialistas sugerem:
- Mediação local permanente: fóruns que reúnam líderes de agricultores, representantes dos pastores e autoridades tradicionais para negociar acordos de uso da terra.
- Rotas de pastagem regulamentadas: demarcação de coridoras de transumância homologadas, com garantias de segurança para todas as partes.
- Policiamento comunitário: formação de milícias civis locais treinadas em direitos humanos e em cooperação com a polícia federal.
- Investimento rural sustentável: projetos de irrigação, agrofloresta e assistência técnica que ampliem a produtividade agrícola sem invadir áreas de pastagem.
Conclusão
O massacre em Yelewata, com mais de 100 mortos e dezenas desaparecidos, é mais um alerta sobre a vulnerabilidade das comunidades rurais no Middle Belt. Sem abordagens estruturadas que combine segurança, justiça e desenvolvimento, o ciclo de violência dificilmente será interrompido – condenando gerações inteiras a conviver com o medo e a instabilidade.
Faça um comentário