
Em sua primeira viagem oficial ao exterior como chanceler da Alemanha, Friedrich Merz escolheu Paris para lançar um apelo incisivo aos parceiros europeus: aumentem os gastos com defesa. “Só assim poderemos fechar nossas lacunas de capacidades e apoiar coletivamente a Ucrânia”, declarou Merz em entrevista conjunta com o presidente francês, Emmanuel Macron.
O encontro, realizado em 7 de maio de 2025, reflete a urgência em reforçar a dissuasão europeia diante de ameaças híbridas e da guerra em solo ucraniano. A mensagem mira diretamente os Estados‑membros que ainda não atingem a meta de 2% do PIB em defesa, estabelecida pela Otan.
Lacunas de capacidades e contexto geopolítico
Orçamentos aquém da meta
Segundo relatório da Otan de março de 2025, apenas seis dos 27 membros da UE alcançaram ou superaram a meta de 2% do PIB em defesa. Alemanha e Itália, por exemplo, dedicaram cerca de 1,5% e 1,3% do PIB, respectivamente, deixando déficits em áreas críticas como defesa antiaérea e guerra cibernética .
Resposta à invasão da Ucrânia
Desde fevereiro de 2022, a Ucrânia depende de suprimentos contínuos de armamentos e munições. A Comissão Europeia estimou, em abril de 2025, um déficit de €60 bilhões para manter o apoio até o final de 2025 . Sem reposição de estoques, há risco de interrupção no fornecimento de sistemas de defesa essenciais.
O renascimento da aliança franco‑alemã
Motor estratégico da Europa
Macron e Merz proclamaram o eixo Paris‑Berlim como “motor estratégico” do continente, propondo:
- Fundo comum de aquisição de sistemas de defesa aérea e anticarro;
- Centros de excelência para ciberdefesa em solo europeu;
- Programa de intercâmbio de tropas para padronização de táticas e logística.
Financiamento e inovação
A dupla concordou em redirecionar verbas do próximo Quadro Financeiro Plurianual da UE para pesquisa em tecnologias emergentes, como radares quânticos e drones de longo alcance. A proposta será oficialmente apresentada na cúpula de chefes de Estado em Bruxelas, agendada para 18–19 de junho de 2025.
Sinergia com a OTAN
Em 6 de maio de 2025, na conferência de ministros da Defesa da Otan em Tallinn, foi aprovado um plano que recomenda todos os membros aliados elevarem seus gastos para, no mínimo, 2% do PIB até 2027 . A iniciativa de Merz alinha‑se a esse consenso, reforçando a convergência entre UE e Otan.
Desafios e reações
Resistências internas
Países do Sul e do Leste Europeu, embora favoráveis ao aumento, exigem garantias de transferência de tecnologia e participação industrial nos programas conjuntos. A Polônia, próxima parada de Merz, deve pressionar por cláusulas que assegurem produção local de equipamentos .
Impacto econômico
Analistas do Bruegel apontam que elevar gastos de 1,5% para 2% do PIB exigirá realocar cerca de €100 bilhões anuais em déficits futuros ou cortes em outros setores, como infraestrutura e bem‑estar social
Implicações para a Ucrânia
Com estoques reforçados e acesso a tecnologia de ponta, as Forças Armadas ucranianas poderão:
- Fortalecer defesas antiaéreas em Donetsk e Kharkiv;
- Expandir operações de drones para vigilância e ataque de precisão;
- Aprimorar cibersegurança, protegendo redes militares e civis.
Esse suporte ampliado pode ser decisivo para manter a resistência até eventuais negociações de paz.
Conclusão
A agenda de Friedrich Merz em Paris representa mais que diplomacia tradicional: é o início de uma estratégia coordenada de defesa europeia, em sintonia com a Otan. Se implementada, poderá não apenas preencher lacunas militares, mas também reforçar a coesão política da UE e garantir apoio sustentável à Ucrânia.
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