
Enquanto o cenário político e militar no Oriente Médio passa por novas transformações, milícias iraquianas apoiadas pelo Irã reiteram seu compromisso com Teerã, mesmo diante de uma mudança de foco em suas atividades regionais.
Durante uma cerimônia realizada na província iraquiana de Diyala, Faleh Al-Fayyad, chefe das Unidades de Mobilização Popular (PMU, na sigla em inglês), reafirmou o vínculo do grupo com a República Islâmica do Irã. O evento marcou o aniversário da expulsão do grupo extremista Estado Islâmico (ISIS) da região, ocorrida em dezembro de 2014.
Al-Fayyad destacou a importância do general iraniano Qassem Soleimani, morto por um ataque de drone dos Estados Unidos em 2020, na luta contra o ISIS. Ele também homenageou Abu Mahdi al-Muhandis, comandante do grupo Kataib Hezbollah, que morreu ao lado de Soleimani no mesmo ataque. “Nossa lealdade permanece com os nossos irmãos iranianos”, afirmou Al-Fayyad, em declarações publicadas pela agência estatal iraniana IRNA.
Atenção volta-se para a Síria
O discurso de Fayyad ocorre num momento em que as milícias xiitas no Iraque reduzem os ataques contra Israel e passam a concentrar suas atenções na vizinha Síria, onde mudanças políticas recentes despertam preocupações e expectativas.
Na última quinta-feira, o novo presidente sírio, Ahmed al-Sharaa, recebeu uma delegação iraquiana liderada por Hamid al-Shatri, chefe do Serviço Nacional de Inteligência do Iraque. O encontro simboliza o fortalecimento de laços entre os dois países, em um momento de incertezas quanto ao futuro da Síria e seu impacto regional.
No Iraque, Hadi al-Amiri, líder da Organização Badr — uma das principais facções dentro da PMU — afirmou não temer o novo governo sírio, mas alertou sobre possíveis repercussões internas. “A Síria não deve ser dividida”, declarou, em referência a temores sobre uma possível fragmentação do território sírio.
Repercussão entre curdos e sunitas
A transição de poder em Damasco também está sendo observada com atenção por outros grupos dentro do Iraque. Lideranças sunitas acreditam que a nova administração síria possa trazer benefícios políticos à minoria sunita iraquiana.
No Curdistão iraquiano, forças ligadas ao Partido Democrático do Curdistão (KDP) acompanham de perto os desdobramentos, na esperança de que os curdos da Síria possam obter maior representação no futuro governo sírio. Há expectativas de que uma administração mais inclusiva em Damasco possa favorecer negociações para a criação de um governo de unidade nacional que contemple os diversos grupos étnicos e políticos do país.
As movimentações destacam como a política interna da Síria continua a influenciar diretamente os rumos do Iraque e das milícias apoiadas pelo Irã, em um contexto onde alianças regionais seguem moldando o equilíbrio de poder no Oriente Médio.
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