
A União Europeia anunciou ontem, terça-feira, 20 de maio de 2025, que iniciará uma revisão do Acordo de Associação Comercial com Israel, em resposta ao agravamento da crise humanitária na Faixa de Gaza. A alta representante para a Política Externa da UE, Kaja Kallas, afirmou que 17 dos 27 Estados‑membros apoiaram a medida durante reunião de ministros das Relações Exteriores em Bruxelas.
Contexto humanitário e político
O bloqueio imposto por Israel reduziu o fluxo de ajuda de cerca de 600 caminhões diários para apenas cinco, numa situação qualificada por Kallas como “catastrófica” e “uma gota no oceano”. A ONU e agências humanitárias alertam para risco iminente de fome em massa e colapso sanitário, especialmente entre mulheres e crianças, caso o acesso a alimentos, água potável e medicamentos não seja ampliado imediata e irrestritamente.
Base jurídica para a revisão
Em vigor desde 2000, o Acordo de Associação UE‑Israel exige o respeito aos Direitos Humanos e aos Princípios Democráticos (Artigo 2º). Ao considerar que o bloqueio e as operações militares em Gaza violam tais compromissos, a UE fundamenta a revisão no próprio texto, abrindo espaço para suspensão total ou parcial de vantagens tarifárias.
Posições dos Estados‑membros e aliados
- Países favoráveis: Países Baixos, Irlanda, Espanha e França manifestaram apoio explícito. O ministro francês Jean‑Noël Barrot ressaltou que “a UE deve agir quando um parceiro comercial permite que civis sofram uma crise humanitária sem precedentes”.
- País bloqueador: Sanções direcionadas a colonos violentos foram preparadas, mas travadas por um Estado‑membro não identificado.
- Reação do Reino Unido: Londres suspendeu negociações paralelas de livre‑comércio, qualificando o bloqueio como “cruel e indefensável” e adotando sanções contra colonos extremistas.
- Pressão internacional: 23 países pediram que Israel não politize a ajuda humanitária, e a Suécia defende sanções a certos ministros israelenses.
Repercussões econômicas e comerciais
O Acordo garante acesso preferencial a produtos agrícolas, têxteis e tecnologia. A suspensão poderia:
- Elevar barreiras tarifárias, reduzindo exportações de Israel ao mercado de 27 países.
- Criar incerteza jurídica para empresas europeias em Israel e territórios ocupados.
- Reversibilidade rápida caso Israel restabeleça o fluxo humanitário, pressionando pela abertura imediata de corredores de ajuda.
Estima-se que perdas anuais possam alcançar:
- €1,2 bilhão em tecnologia e cibersegurança.
- €350 milhões em frutas e hortaliças.
- €240 milhões no setor têxtil.
Empresários europeus e executivos de startups em Tel Aviv já sinalizam retração de investimentos e adiamento de parcerias de pesquisa, temendo insegurança regulatória.
Reações em Israel e região
O governo de Benjamin Netanyahu rejeita críticas ocidentais, defendendo que as operações militares são essenciais à segurança nacional. Internamente, surgiram relatos de prisões por espionagem para o Irã e tensões renovadas na fronteira com o Líbano após bombardeios israelenses.
Próximos passos e cronograma
- Relatório da Comissão: até 90 dias para recomendar medidas concretas (– suspensão parcial ou total de capítulos do acordo).
- Veto: caso um único Estado‑membro mantenha objeções, ações poderão ser limitadas a seletivos setores.
- Prazo previsto: conclusão da revisão até final de agosto de 2025, quando a Comissão apresentará propostas ao Conselho e ao Parlamento Europeu.
Conclusão
Ao vincular o comércio a parâmetros de direitos humanos, a UE reafirma que a cooperação econômica deve andar lado a lado com o respeito a valores fundamentais. A revisão do Acordo de Associação com Israel pode redefinir não apenas o fluxo comercial bilateral, mas também a posição europeia em crises humanitárias globais. O desfecho deste processo poderá influenciar futuras decisões diplomáticas da UE em contextos semelhantes — estabelecendo um novo precedente para como valores éticos interferem diretamente nas relações econômicas internacionais.
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