
Entre 9 e 12 de junho de 2025, Vietnã e Estados Unidos realizaram em Washington, D.C., a terceira rodada de negociações para um Acordo Comercial Recíproco, pressionados pelo vencimento, em 9 de julho, da suspensão de tarifas de 46% sobre produtos vietnamitas. Embora o diálogo tenha sido descrito como “produtivo” por ambas as partes, questões centrais — como a dependência vietnamita de insumos chineses, práticas de transbordo e barreiras não‑tarifárias — seguem sem solução, exigindo novos encontros de alto nível e reformas domésticas profundas.
Contexto e urgência do prazo tarifário
A suspensão das tarifas de 46% foi estabelecida em caráter temporário para evitar um choque imediato nas exportações vietnamitas. Com o prazo se aproximando, cada dia sem acordo eleva o risco de retaliações comerciais capazes de interromper cadeias globais de suprimento, dadas as estreitas ligações entre fábricas vietnamitas e montadoras americanas.
Panorama dos fluxos comerciais
Em maio de 2025, o superávit comercial do Vietnã para com os EUA alcançou US$ 12,2 bilhões — alta de 42% em doze meses — e as exportações atingiram um recorde pós‑pandemia de US$ 13,8 bilhões, impulsionadas por eletrônicos, têxteis e móveis. Essa expansão é resultado, em grande parte, da estratégia “China + 1” de empresas como Apple, Intel e Nike, que deslocam parte de sua produção para o Vietnã para diversificar riscos.
Posições em disputa
- Abertura a importações dos EUA: Há disposição em flexibilizar barreiras técnicas e sanitárias para importar aviões, grãos e energia norte‑americanos, embora até o momento não tenham sido firmados contratos concretos.
- Redução da dependência de insumos chineses: Washington exige que Hanoi diversifique sua cadeia de suprimentos, diminuindo importações de materiais industriais da China.
- Combate ao transbordo ilegal: O governo vietnamita intensificou fiscalização em portos e penalizou operadores suspeitos de reetiquetar produtos chineses como vietnamitas para driblar tarifas.
Reações e riscos domésticos
Para o Vietnã, que depende do comércio exterior para mais de um terço do seu PIB, o fracasso em atender às demandas dos EUA ameaça desacelerar o crescimento econômico — o Fundo Monetário Internacional já revisou para baixo a previsão do PIB de 6,8% para 5,8% em 2025, caso as tarifas voltem a vigorar. Além disso, mais da metade dos 57 milhões de trabalhadores vietnamitas atua em setores exportadores, o que potencializa o impacto social de um eventual aumento dos custos de produção.
Próximas etapas e perspectivas
Em resposta às lacunas ainda não superadas, ficou agendada uma reunião virtual entre o ministro vietnamita Nguyen Hong Dien e o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, com mediação do representante de Comércio americano Jamieson Greer. O objetivo é executar tratativas técnicas e buscar soluções mútuas antes de eventuais encontros presenciais.
Perspectiva de médio prazo:
- Para o Vietnã: Equilibrar crescimento econômico com pressão externa, avançar em reformas regulatórias e fortalecer setores domésticos para reduzir vulnerabilidades.
- Para os EUA: Garantir o acesso a insumos seguros e diversificar fornecedores, além de proteger empresas americanas contra práticas desleais.
O desfecho dessas negociações determinará não apenas a continuidade do fluxo de comércio, mas também o posicionamento estratégico do Vietnã na geopolítica econômica global e sua capacidade de atrair novos investimentos estrangeiros sem comprometer a estabilidade interna.
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